A noite era escura e densa, eu caminhava sem rumo, perdido, cego de desejo, no infinito das ruas desertas, o cimento dos prédios, morria de sede de desejo naquele deserto de cimento.
A luz dos candeeiros rebolava prateadamente nas poças que a chuva tinha deixado dispersas no asfalto cinzentamente incolor. Era tarde, alguns bares ainda estavam abertos, dentro deles, as pessoas viviam-se umas ás outras, geralmente eu imaginava-as de faces enfeitadas de um sorriso provocado pelo calor social que as envolvia, o esquecimento que as aquecia, de não terem a minha amargura que não as agitava.
Fixei o meu olhar numa rapariga, parecia tão absorvida pelo ambiente que a rodeava que o sorriso que trazia nos olhos quase parecia real, parecia feliz onde estava, simplesmente por ser, ali, naquele momento...
E eu sentia-me só, mas implacável neste frio que me corroia interior e exteriormente, envolvia-me uma força agúda e infinita, o orgulho ridículo de me estar a viver só, exclusivamente.
De todos os meus sntimentos formarem uma maré estrondosa de semntimentos sem fim e essa incrível massa de emoção não ter mar onde desaguar, a minha existência ser demasiado pesada para que o meu sorriso fosse tão leve como o da rapariga, o meu olhar ser tão primordialmente vazio como o de pessoas colectivas de divertimento.
Caminhava pelas ruas cheias de fragmentos do calor que brilhava aqui e ali, como em montras que convidam a entrar, quem me dera ter a força de me deixar arrastar por uma vontade alheia, colectiva, a força de, por instantes, largar o meu orgulho e conseguir ser como os outros, tão felizes por serem iguais, conseguir incorporar um outro personágem isento de amargura, conseguir gerar o calor suficiente para deixar de ser frio, não ter exigências... ...entregar-me a ondas sonoras e vibrar com a penetração sonora a que me sujeitei, enfim, dançar...
Continuava sem rumo, iludido por luzes das mais variadas cores, pecando por olhar tudo sobriamente sem saber o que fazer, sem saber o destino a traçar, só sabia que não queria voltar de mãos vazias, ao menos que trouxesse uma gama de observações,retratos mas nunca desistir, desistir de me ser eu, não, isso não,capitular?- nunca...
Damas de aluguer, mulheres da vida, comparsas, prostitutas, putas, dêm-lhes o nome que quiserem, eram as figuras que se ofereciam, exibindo-se, na berma da rua, um olho nos carros, outro nas figuras solitárias que se passeavam á procura de melhor destino nos passeios desta cidade deserta, figuras como eu, e faltando-lhes a intuição para destinguir sombras de vultos vinham falar comigo, sem saber que estavam destinadas ao fracasso, embora não terem a consciência do conforto que me traziam por ter alguém que desse pela minha presença, que registasse a minha existência.
O silêncio monumental de uma cidade que dorme.Pairava no ar todo o movimento que o dia deixara, um aroma forte de grandiosidade, de triunfo, de poder, que se desfazia na língua da alma e funcionava como sedativo ao monstro que me ameaçava destruír por dentro, e o ar que pairava sobre esta polis abandonada ao desejo da incerteza enchia-me o pulmão onírico e trazia-me, uma páz solitária, momentanea, mas galante e por instantes senti-me em sintonia comigo, tranquilo completo...
segunda-feira, 13 de outubro de 2008
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