quarta-feira, 19 de novembro de 2008

18.11.08

solidão,
mata-me!
que donde venho
não há mais voltar.

mata-me,
que onde estou
não há como fugir,
não há respirar.

solidão,
não me deixes sonhar!
que todo o sonho traz veneno
do vazio que ela deixou.

solidão,
não me deixas amar!
que todo o amor são restos,
daquele que ela levou…

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

11.11.08

fui à varanda acender um cigarro
abri os olhos, respirei o fumo.
senti o brilho dos edifícios, absorto em silêncio
o granito das luzes, gelado.
respirei fundo
e o frio da noite estalou no pulmão da minha alma
como se nada disto importasse.
como se fazendo todo o sentido neste momento
no fundo nunca tivesse importado.
e toda a solidão em mim estremeceu soltando um grito.
quem és tu?
quem és tu pobre desconhecido
a quem a lua pinta os vultos abandonados desta cidade no olhar?
porque procuras tu futilmente um sentido nestas coisas
sabendo perfeitamente que não existe?
não são elas que remendarão os furos que a vida te deixou na alma
e mesmo assim… lá estás tu, tolo,
à espera que alguma estrela te caia no colo
e te venha iluminar um caminho que não existe.

sexta-feira, 7 de novembro de 2008

para variar, um bocado de citação:

Gonna see the river man
Gonna tell him all I can
'bout the ban
On feeling free.

If he tells me all he knows
About the way his river flows
I don't suppose
It's meant for me.

nick drake: river man (grande música- uma ode à incerteza do nosso destino)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

06.11.08 II

Admiro a determinação inocente da criança que brinca na praia à beira da rebentação construindo castelos de areia. Cada vez que uma onda lhe destrói o castelo ela recomeça, construindo um ainda maior, à espera que desta vez resista. Sem inteligência para compreender o carácter sísifico da tarefa a que se propõe. Constrói por gosto, divertida, feliz e entusiasmada.
Tivesse a vida deixado viver essa criança em mim. Trouxesse eu em mim o seu fôlego despreocupado…

06.11.08

a vida continua,
e há dias em que é precisamente esse o problema
o de a vida não ter parado ali onde ela fazia sentido
onde a tudo correspondia um significado
quando estes dias cinzentos não arranhavam
quando tudo esbarrava numa ligeireza inabalável
mesmo assim a vida tem que continuar,
e há dias em que é precisamente esse o desespero…