sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

morte em camera lenta

acordei com a depressão a bater à porta,
não a deixei entrar – entrou na mesma
deitou-se ao meu lado,
e olhou-me nos olhos.

congelei de medo.
nunca a sentira tão perto,
o seu respirar, arrepiante.

não me movo.
não me atrevo.
sei que lá fora me espera o mundo,
carregado de verdade
de maldade e solidão enevoada.
não fujo.

horas a fio, sem me mexer.
deitado aqui,
à espera que passe,
que desapareça.
mas ela persiste,
sorri e resiste.

sei que me quer, faminta,
sentada ali
na outra ponta do quarto
sorrindo,
aguçando as garras,
à espera que eu me distraia.

não fujo.
faço-me de valente,
disfarço o medo fazendo de conta que não a vejo
mas ela continua ali
paciente,
esperando.

epílogo:

ignoro a fome
prefiro-lhe o enjoo de um cigarro atrás do outro
aliviam a pressão no meu peito
esta dor que me deixa sem jeito
esta inquietude dentro mim
que anuncia a mágoa por verter
e quando rebento por fim
em espasmos de enlouquecer
ponho um cadeado na minha cara
embebido em apatia; ninguém repara.

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